ACIC BLOG: Que sinais uma pessoa com ideias suicidas emite? Quais são os fatores de risco?
Gisele: O suicídio não ocorre de uma hora para outra, geralmente a pessoa carrega dentro de si um sentimento de profunda tristeza, inadequação, desvalia entre outros, que tende a persistir por um longo período de tempo. Uma pessoa é diferente da outra, desta forma, não há um só fator que determina esta ação, este ato varia muito de acordo com a história de vida da pessoa, seu meio e a forma que ela tem de lidar com seus problemas. Mesmo assim, há alguns sinais que devemos sempre estar em alerta como: tristeza excessiva prolongada, falta de vontade de estar com outras pessoas, alteração repentina de comportamento e rotina, apatia, pessimismo elevado, fácil irritabilidade, mudança de hábitos súbitos, alteração no sono, falas repentinas sobre morte ou suicídio, desesperança, histórico de abusos físicos e/ou sexuais, consumo excessivo de álcool ou outras drogas, depressão, tentativas anteriores de suicídio, transtornos psiquiátricos entre outros. Com a pandemia, outros fatores agravam este risco, como a perda do emprego, estresse financeiro e o isolamento social.
ACIC BLOG: Qual a relação da depressão com o suicídio?
Viviane: A depressão é uma doença grave no qual a pessoa não consegue ver uma “luz no fim do túnel", ela quer tirar a dor e o sentimento de vazio que está dentro dela, geralmente tem dificuldade de falar e se expressar. O sentimento de tristeza é tão grande e profundo, que ela quer se livrar desta dor, e acredita que a única solução seria tirar a própria vida, pois chega a conclusão que seria o melhor para si e para sua família, deixaria de ser mais um “peso para todos”. Este sentimento leva a uma depressão crônica e intensifica a tentativa e o suicídio, pois a pessoa acredita que esta ação seria “a única forma encontrada de resolver seus problemas”.
Acic Blog: Quais atividades podem ajudar a afastar as ideias suicidas?
Gisele: Fortalecimento da fé, atividades físicas, hobbies,
psicoterapia , alimentação saudável, redução de tempo dedicado às mídias
sociais, apoio familiar, cuidar de um animal de estimação, entre outros.
Acic Blog: Existe um público com maior pré-disposição a cometer o suicídio?
Viviane: De acordo com os dados da Organização Panamericana de Saúde, o suicídio foi a quarta causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos. Muitas vezes influenciado pela distorção de valores (não saber reconhecer o que é importante para sua vida), bullying e/ou cyberbullying, imersão excessiva das redes sociais, falta de expectativas para futuro, conflitos relacionados com orientação sexual, ausência de tratamento adequado, falta de diálogo com família. O risco também aumenta com o aumento da idade, ou seja, quando a pessoa que costumava ser ativa, aposenta e tem uma mudança brusca em sua rotina, deixa de se sentir produtiva gerando assim um sentimento de vazio e de menos valia, que pode levar a um efeito em cadeia que começa pela depressão e pode chegar ao suicídio.
Acic Blog: O tema suicídio ainda é um tabu? Como abordá-lo com os jovens?
Gisele: Sim, porém a medida em que a sociedade participa mais
deste movimento de entender o que é o suicídio, e a importância de falar sobre,
reduz o estigma e cria novos diálogos, empatia e acolhimento. O setembro amarelo
é um exemplo que ressalta essa importância e conscientiza as pessoas sobre a
gravidade deste assunto, muitas escolas já realizam em salas de aula discussões
sobre o tema a fim de prevenir e reduzir essa taxa tão elevada. Para os pais,
ter um tempo de qualidade com seus filhos, se interessar e participar mais na
rotina e interesses do mesmo, ter mais momentos em família que possibilitem
estes jovens a expressar opiniões e serem também ouvidos, gera mais confiança
para que eles possam se abrir sobre este assunto tão dolorido e difícil.
Acic Blog: Como conversar e ajudar uma pessoa que está em sofrimento? Em que momento intervir e buscar ajuda? Quais profissionais recorrer?
Viviane: Ouvir e demonstrar empatia, afetividade, dar apoio necessário, levar a situação a sério, perguntar se já teve esses pensamentos anteriormente, verificar junto com ela outras possibilidades, conversar com família e amigos próximos, remover os objetos de risco a vida de perto da pessoa, permanecer ao lado dela, procurar compreender o sentimento do outro sem diminuir a importância dele. Quando perceber os primeiros sinais ou fatores de risco, já orientar e buscar ajuda profissional. Quem realiza o tratamento para depressão e risco de suicídio são profissionais da área da Psiquiatria ePsicologia. Há também o CVV - Centro de Valorização da Vida, que atua como um apoio para emergências, ouvindo e direcionando estas pessoas para o tratamento adequado.
Acic Blog: Setembro amarelo também deve ser debatido nas empresas? Como e qual a importância de abordar o tema com os colaboradores?
Gisele: As mudanças de rotina, inseguranças e incertezas geradas devido o covid, aumentaram os pensamentos com tendências suicidas. Muitos colaboradores tiveram salários e cargas horárias reduzidas, outros perderam empregos, tiveram que mudar de profissão e rotina. A conversa sobre este tema nas empresas, aumenta a empatia entre colaboradores e empregadores. Ajuda também como apoio para que a pessoa não se sinta sozinha neste meio. Abordar este tema nas empresas melhora a saúde mental dos funcionários e impactam no bem-estar e na qualidade de vida dos mesmos, pois a equipe tende a desempenhar seu trabalho atuando com mais qualidade, engajamento e motivação.
O Setembro Amarelo ajuda as pessoas a se conscientizarem de que não estão sozinhas neste “barco”, e perceberem que há outras pessoas que passam por dificuldades semelhantes, e que SIM, É POSSÍVEL encontrar outras soluções. O suicídio não é a forma de resolver um problema, falar sobre a dificuldade ainda é a melhor maneira. Falar sobre o problema não é sinal de fraqueza e sim uma forma de autocuidado e força para superar as dificuldades. Falar sobre, permite que possamos ter consciência que problemas existem, mas, que não precisamos carregá-los sozinhos, muitas vezes precisaremos de ajuda para superá-los.
Contribuição e participação
no artigo
Gisele Rodrigues - Psicóloga CRP 08/22651
Especialista em Psicanálise
Clínica e
Tanatóloga. Clínica de Psicologia
Gisele Rodrigues.
Viviane V. Treter do
Nascimento - Psicóloga CRP 08/11517
Especialista em Análise
Funcional do
Comportamento,
Psicopedagogia e
Neuropsicopedagogia.
08/09/2021 - Viviana Durante