Os ciclos extrativistas
deram fôlego à economia da região que despontava no interior do Paraná. Foram
pelo menos três décadas de abundância e para alguns parecia que o momento seria
eterno. Mas não era. Os primeiros sinais de fragilidade apareceram nos anos de
1950. A população da Cascavel da época era basicamente rural, mas havia um
centro urbano pulsante, formado por pessoas cultas e empreendedoras.
Nesse ambiente sugiram os
primeiros movimentos para a criação de uma agremiação diferente, que pudesse
integrar pessoas dispostas a doar seu tempo e seu talento pela construção de
algo especial. Com o fim da extração da erva-mate e com o declínio do corte da
madeira, havia chegado a hora de pensar em alternativas que pudessem sustentar
os indicadores econômicos da cidade que estava no coração de uma região que se
mostrava das mais promissoras.
Era noite do dia 4 de
abril de 1960. O relógio marcava 20h30 e uma movimentação diferente quebrava o
silêncio do salão social do Tuiuti Esporte Clube. Cinquenta e um empresários,
elevado percentual do PIB local, desfilava pelo ambiente. O encontro tinha um
motivo sério, debater a encruzilhada na qual a pujante Cascavel se encontrava:
ou se conseguiam respostas para a crise que se avizinhava ou o crescimento
daria lugar a declínios econômicos contundentes.
Ferdinando Maschio foi
quem declarou a reunião aberta. E ele foi logo avisando o que trazia a todos
àquele ambiente: criar, fundar e instalar uma entidade empresarial que pudesse,
com a junção das brilhantes mentes locais, pensar em caminhos de prosperidade
para o município. Havia consenso quanto à necessidade de contar com uma
associação capaz de refletir sobre as grandes dores e aspirações locais.
A leitura e aprovação de
um estatuto formado por uma comissão especial foi aprovado por unanimidade e,
então, os presentes tiveram alguns minutos para articular a formação de chapas
para a eleição da primeira diretoria.
Uns apoiavam a indicação
de uma chapa de consenso e outros, em nome da democracia e tentados pela
experiência de dar mais emoção ao momento histórico, defendiam a apresentação
de duas, para dar opção aos eleitores. E assim foi feito. A número 1 tinha o
médico Wilson Joffre dos Santos como candidato a presidente e a 2, Altamir
Silva. Para surpresa de muitos, o jovem Grandão, com seus 26 anos incompletos,
acabaria eleito.
No livro dos 50 anos da
Acic, uma história de associativismo, Altamir afirma: “Até hoje ainda não
entendi como acabei eleito. Eu não era político, não tinha experiência,
tampouco exercia alguma liderança na comunidade”. Ele sequer havia participado
de reuniões prévias que conduziram à constituição da associação comercial.
Antes da confirmação do vencedor, porém, Joffre pediu exclusão de seu nome da
chapa, devido à sua agenda pesada, e no lugar dele foi indicado o veterano
Ferdinando Maschio, que igualmente recusou. O terceiro indicado, Arvilho Sonda,
também declinou. Para que a eleição seguisse, sugeriu-se uma articulação
estranha: Sonda ficaria na cabeça da chapa até que a eleição terminasse e, caso
eleito, bastaria renunciar, se assim quisesse.
A chapa 1 conquistou 33
votos, e a 2, 18. A primeira diretoria da Acic ficou assim composta: Altamir
Silva presidente, Itasyr Luchesa primeiro vice, Walter Linzmayer segundo vice,
Adelar Bertolucci primeiro secretário, Adolpho Cortese segundo secretário,
Theodoro Colombelli primeiro tesoureiro, Algacyr Biazetto segundo tesoureiro e
Arvilho Sonda, terceiro tesoureiro. Todos foram empossados na mesma emblemática
noite de 4 de abril de 1960.
O ano da Acic
O momento exato da
concepção da Acic pode estar numa torturante arbitrariedade policial. No fim da
década de 1950, já com população urbana de seis mil habitantes, Cascavel vivia
um período de muito banditismo em decorrência da luta pela terra na zona rural.
Nesse ambiente
fervilhante, até o presidente da Câmara, vereador Alir Silva, seria preso, no
segundo semestre de 1959, mesmo estando na companhia do seu advogado. Ele,
escreveu o jornal Última Hora, de São Paulo, da edição de 8 de agosto de 1959,
“foi agarrado à força e arrastado pelas ruas por mais de um quilômetro,
terminando por ser jogado dentro do xadrez com os meliantes”.
O episódio causou muita
indignação entre os empresários, pois vários deles eram perseguidos pela
polícia por motivos políticos: mudava o governo, mudava também o alvo da
perseguição policial. Quem estivesse contra o governo ou não aderisse a ele
corria o permanente risco de constrangimentos de toda ordem.
Os comerciantes urbanos
ansiavam por uma organização comunitária que defendesse dessas arbitrariedades
e também da grave ameaça de Cascavel se tornar uma cidade-fantasma quando o
ciclo da madeira terminasse.
As últimas fortes
encomendas de madeiras brutas e beneficiadas para a construção de Brasília
estavam sendo embarcadas e depois disso uma nuvem negra se acercaria do
comércio cascavelense. A vocação da cidade para o comércio e os serviços se
delineava com muita clareza já nessa época, mas as perspectivas não eram as
mais animadoras.
A única entidade
comunitária existente em Cascavel então era o Tuiuti Esporte Clube, mas se
tratava de uma organização voltada exclusivamente às atividades sociais e
esportivas. E por mais que se discutissem as coisas da cidade na casa do
patriarca Florêncio Galafassi, nas sessões da Câmara e nos encontros às saídas
das missas, já então divididas entre as paróquias do Patrimônio Velho (igreja
de Santo Antônio) e Patrimônio Novo (igreja de Nossa Senhora Aparecida), os
debates não eram organizados.
Rito de passagem
Hoje, tudo se discute na
Acic, mas na época não havia como deliberar e sugerir decisões no plano
comunitário, a não ser pela pequena assessoria do prefeito Helberto Scharwz e
por uma Câmara dividida e agitada por fortes atritos. Exatamente no dia da
criação da Acic, Cuba expropriou as companhias americanas United Fruit e Texaco
e o filme Bem-hur ganhava 11 Oscars.
No plano nacional, em 1960
o Paraná já ultrapassava São Paulo na produção de café, e dele vinha o único ânimo
positivo para os atormentados comerciantes: Cascavel via na rubiácea uma
possível saída para a crise que se avizinhava e punha em risco, muito concreto,
a sobrevivência do comércio local.
No ano em que a Acic nasceu, também nasceram os futuros presidentes Susana Gasparovic Kasprzak e Valdinei Francisco Bobato. Várias universidades foram criadas no Brasil durante o ano, que alguns dias depois da fundação da Acic seria marcado pela inauguração de Brasília em 21 de abril.
Altair Silva, o
primeiro presidente da Acic
12/04/2021 - Assessoria