Você
sabia que a cada 40 segundos uma pessoa perda a vida em decorrência do suicídio
no mundo? E que, para cada suicídio, de seis a dez pessoas são diretamente
impactadas, sofrendo consequências irreversíveis?! Sem dúvidas, esse percentual
é alarmante!
Em virtude deste
cenário, a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o
Conselho Federal de Medicina – CFM, promovem nacionalmente a campanha do Setembro
Amarelo. Como incentivadora da campanha, a ACIC promove durante todo o mês de
setembro ações que tenham como objetivo, lançar discussões e alertas sobre o
assunto ao meio empresarial e colaborativo.
Iniciamos essa
importante iniciativa, conversando com as Psicólogas Gisele Rodrigues e
Viviane Treter do Nascimento. As profissionais, em um bate papo esclarecedor,
falaram sobre a importância da campanha do Setembro Amarelo e de que forma ela
pode impactar na vida de tantas pessoas. Acompanhe a entrevista.
ACIC BLOG: Que sinais uma pessoa com ideias suicidas emite? Quais são os fatores de
risco?
Gisele: O suicídio não ocorre de uma hora para outra,
geralmente a pessoa carrega dentro de si um sentimento de profunda tristeza,
inadequação, desvalia que tende a persistir por um longo período de tempo. Uma
pessoa é diferente da outra, desta forma, não há um só fator que determina esta
ação, este ato varia muito de acordo com a história de vida da pessoa, seu meio
e a forma que ela tem de lidar com seus problemas. Mesmo assim, há alguns
sinais que devemos sempre estar em alerta, como: tristeza excessiva prolongada,
falta de vontade de estar com outras pessoas, alteração repentina de
comportamento e rotina, apatia, pessimismo elevado, fácil irritabilidade,
mudança de hábitos súbitos, alteração no sono, falas repentinas sobre morte ou
suicídio, desesperança, histórico de abusos físicos e/ou sexuais, consumo
excessivo de álcool ou outras drogas, depressão, tentativas anteriores de
suicídio, transtornos psiquiátricos entre outros.
ACIC BLOG: Qual
a relação da depressão com o suicídio?
Viviane: A depressão é uma doença grave na qual a
pessoa não consegue ver uma “luz no fim do túnel", ela quer tirar a dor e
o sentimento de vazio que está dentro dela, geralmente tem dificuldade de falar
e se expressar. O sentimento de tristeza é tão grande e profundo, que ela quer
se livrar desta dor, e acredita que a única solução seria tirar a própria vida,
pois chega à conclusão que seria o melhor para si e para sua família, deixaria
de ser mais um “peso para todos”. Este sentimento leva a uma depressão crônica
e intensifica a tentativa e o suicídio, pois a pessoa acredita que esta ação
seria “a única forma encontrada de resolver seus problemas”.
ACIC BLOG: Quais
atividades podem ajudar a afastar as ideias suicidas?
Gisele: Fortalecimento da fé, atividades físicas,
hobbies, psicoterapia, alimentação saudável, redução de tempo dedicado às
mídias sociais, apoio familiar, cuidar de um animal de estimação, entre outros.
ACIC BLOG: Existe
um público com maior pré-disposição a cometer o suicídio?
Viviane: De
acordo com os dados da Organização Panamericana de Saúde, o suicídio foi a
quarta causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos. Muitas vezes
influenciado pela distorção de valores (não saber reconhecer o que é importante
para sua vida), bullying e/ou cyberbullying, imersão excessiva das redes
sociais, falta de expectativas para futuro, conflitos relacionados com
orientação sexual, ausência de tratamento adequado, falta de diálogo com
família. O risco também aumenta com o avanço da idade, ou seja, quando a
pessoa que costumava ser ativa, aposenta e tem uma mudança brusca em sua
rotina, deixa de se sentir produtiva gerando assim um sentimento de vazio e de
menos valia, que pode levar a um efeito em cadeia que começa pela depressão e
pode chegar ao suicídio.
ACIC BLOG: O
tema suicídio ainda é um tabu? Como abordá-lo com os jovens?
Gisele: Sim, porém a medida em que a sociedade participa
mais deste movimento de entender o que é o suicídio, e a importância de falar
sobre, reduz o estigma e cria novos diálogos, empatia e acolhimento. O Setembro
Amarelo é um exemplo que ressalta essa importância e conscientiza as pessoas
sobre a gravidade deste assunto, muitas escolas já realizam em salas de aula
discussões sobre o tema a fim de prevenir e reduzir essa taxa tão elevada. Para
os pais, ter um tempo de qualidade com seus filhos, se interessar e participar
mais na rotina e interesses do mesmo, ter mais momentos em família que
possibilitem estes jovens a expressar opiniões e serem também ouvidos, gera
mais confiança para que eles possam se abrir sobre este assunto tão dolorido e
difícil.
ACIC BLOG: Como
conversar e ajudar uma pessoa que está em sofrimento? Em que momento intervir e
buscar ajuda? Quais profissionais recorrer?
Viviane: Ouvir e demonstrar empatia, afetividade, dar apoio
necessário, levar a situação a sério, perguntar se já teve esses pensamentos
anteriormente, verificar junto com ela outras possibilidades, conversar com
família e amigos próximos, remover os objetos de risco a vida de perto da
pessoa, permanecer ao lado dela, procurar compreender o sentimento do outro sem
diminuir a importância dele. Quando perceber os primeiros sinais ou fatores de
risco, já orientar e buscar ajuda profissional. Quem realiza o tratamento para
depressão e risco de suicídio são profissionais da área da Psiquiatria e Psicologia. Há também o CVV - Centro de Valorização da Vida,
que atua como um apoio para emergências, ouvindo e direcionando estas pessoas
para o tratamento adequado.
ACIC BLOG: Setembro Amarelo também deve ser debatido nas
empresas? Como e qual a importância de abordar o tema com os colaboradores?
Gisele: As mudanças de rotina, inseguranças e
incertezas geradas devido o COVID, aumentaram os pensamentos com tendências
suicidas. Muitos colaboradores tiveram salários e cargas horárias reduzidas,
outros perderam empregos, tiveram que mudar de profissão e rotina. A conversa sobre esse tema nas empresas, aumenta a empatia entre
colaboradores e empregadores. Ajuda também como apoio para que a pessoa não se
sinta sozinha neste meio. Abordar este tema nas empresas melhora a saúde mental
dos funcionários e impacta no bem-estar e na qualidade de vida dos mesmos,
pois a equipe tende a desempenhar seu trabalho atuando com mais
qualidade, engajamento e motivação.
Precisamos falar mais sobre isso
O Setembro Amarelo ajuda
as pessoas a se conscientizarem de que não estão sozinhas neste “barco”, e
perceberem que há outras pessoas que passam por dificuldades semelhantes,
e que SIM, É POSSÍVEL encontrar outras soluções. O suicídio não é a forma de
resolver um problema. Falar
sobre o problema não é sinal de
fraqueza e sim uma forma de autocuidado e força para superar as dificuldades.
Falar sobre, permite que possamos ter consciência que problemas existem, mas,
que não precisamos carregá-los sozinhos, mas que sim, muitas vezes ao longo de
nossas vidas, precisaremos de ajuda para superá-los.
Contribuição e participação no artigo
Gisele Rodrigues - Psicóloga
CRP 08/22651
Especialista em Psicanálise Clínica e
Tanatóloga. Clínica de Psicologia
Gisele Rodrigues.
Viviane V. Treter do
Nascimento - Psicóloga CRP
08/11517
Especialista em Análise Funcional do
Comportamento, Psicopedagogia e
Neuropsicopedagogia.
09/09/2024 - Viviana Durante