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Itaipu e a missão de gerar energia com qualidade e responsabilidade

Há três anos, a Itaipu iniciou um amplo processo de revisão de suas ações, com foco central em sua missão de gerar energia, e os resultados podem ser vistos, entre outros, em economia que oportuniza investimentos em obras estruturais estratégicas ao Brasil e Paraguai. É sobre isso e outros aspectos da hidrelétrica que o presidente brasileiro da binacional, o almirante Anatalicio Risden Júnior, fala em entrevista exclusiva à Acic. Acompanhe:

Entrevistado: diretor-geral brasileiro de Itaipu, almirante Anatalicio Risden Junior.

Acic – O sistema energético passa por mudanças profundas principalmente nos últimos 20 anos no Brasil, com avanços das energias renováveis (solar, eólica e biomassa). Como a Itaipu, referência em energias limpas ao mundo, integra-se ao contexto dessas novas matrizes?

Almirante Risden – Itaipu é a usina que mais gerou energia elétrica em todo o mundo e faz isso a partir de uma fonte limpa e renovável, a água. Isso representa um amplo aproveitamento do nosso principal insumo, que é a água, protegida por matas ciliares preservadas para garantir a segurança hídrica e energética. Além disso, está alinhada à última atualização do Plano Decenal de Energia (2022-2031), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética, que prevê maior participação de outras matrizes, além da hidroeletricidade. O Brasil é pioneiro na transição energética, processo iniciado na década de 1970, quando a Itaipu foi construída. Hoje, 84% da matriz energética do País é proveniente de fontes renováveis. Conforme dito pelo presidente Jair Bolsonaro em seu discurso no Diálogo de Alto Nível das Nações Unidas sobre Energia, a descarbonização da matriz consiste em uma “enorme oportunidade de modernizar e criar indústrias, impulsionar a inovação tecnológica, atrair investimentos e gerar empregos de qualidade, contribuindo para desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida das próximas gerações”. Se, por um lado, as novas fontes trazem diversificação e menores custos, por outro acompanham consigo grandes desafios ao planejamento. Com menor participação das hidrelétricas na atualidade, temos que garantir o atendimento energético da carga do País assim como a confiabilidade elétrica e o atendimento à demanda. Por isso, a empresa está investindo na atualização tecnológica da usina e na revitalização do Sistema de Corrente Contínua de Alta Tensão de Furnas. Com relação às outras matrizes, a Itaipu tem estimulado o aproveitamento do biometano e da energia solar. Desde 2017, a entidade abriga uma Unidade de Demonstração de biogás e biometano, que serviu como referência ao Programa Nacional de Redução de Emissão de Metano – Metano Zero, lançado recentemente pelo governo federal. A unidade, gerida pelo Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), instituído a partir de um projeto da Itaipu, já tratou 550 toneladas de resíduos orgânicos e produziu 37 mil m³ de biometano usados para abastecimento de 40 veículos da frota de Itaipu, evitando a emissão de 3,5 toneladas de Gases de Efeito Estufa. Dentro desse contexto, a Itaipu Binacional tem procurado fazer o seu papel, ora complementando a expansão das fontes solar e eólica, suprindo o sistema com energia firme e estável nos momentos de menor incidência de sol e vento, ajudando a diminuir a incerteza e a instabilidade trazida por essas fontes; ora por meio de massivos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Sob as diretrizes e a orientação do governo federal, a Itaipu investe e incentiva o desenvolvimento de diversas fontes renováveis de geração de energia, por meio de seu Parque Tecnológico, como: o hidrogênio, a geração solar e o biogás. Além disso, Itaipu investe em projeto-piloto de microrredes elétricas em área rural, auxiliando na definição da política para inserção dessa parcela de consumidores ao sistema; pesquisas para desenvolvimento de baterias de sódio, que não utilizam componentes poluidores em sua estrutura; e o desenvolvimento do primeiro ônibus híbrido (elétrico – etanol) do mundo, em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação, contando com a tecnologia das baterias de sódio. Também estamos desenvolvendo um projeto para a instalação de placas solares no aterro sanitário de Toledo, aqui no Oeste do Paraná, outra iniciativa que pode ser replicada pelo Brasil afora, além de estimular a autogeração de energia a partir do biometano entre produtores rurais da região.

Acic – A Itaipu economizou somas consideráveis de dinheiro nos últimos três anos. O que mudou, e que medidas internas foram adotadas, para que esses resultados fossem possíveis?

Almirante Risden – Itaipu reviu ações que não tinham conexão direta com a sua missão, que é “gerar energia elétrica de qualidade com responsabilidade social e ambiental, contribuindo com o desenvolvimento sustentável no Brasil e no Paraguai”.  A adoção de uma nova norma de concessão de patrocínios, fundamentada na análise de métricas objetivas; a centralização de toda a força de trabalho da Itaipu da margem brasileira em Foz do Iguaçu, cidade-sede da usina; e o redirecionamento de recursos para a realização de obras estruturantes altamente estratégicas para o desenvolvimento econômico e socioambiental da região Oeste do Paraná. Adotamos as melhores práticas de gestão do mercado, com redução de custos e de olho no futuro da empresa. A gestão racional com austeridade está no cerne da gestão da diretoria brasileira. Ela é uma das nossas cinco ideias-força, que contemplam ainda binacionalidade, proatividade, meritocracia e imagem institucional. Para isso, a diretoria brasileira aprovou diretrizes para o aprimoramento da gestão na Itaipu, no primeiro dia em que assumi a diretoria geral brasileira. Tais diretrizes foram organizadas em um documento que é fruto da experiência em outras organizações e consultas com CEOs, ratificado pelos conselheiros brasileiros da empresa. A entidade está alinhada ao governo federal, com apoio de todo o corpo funcional da empresa, a fim de que se mantenha economicamente saudável e servindo ao povo brasileiro e paraguaio.

Acic – Com essa economia, a hidrelétrica voltou a investir em grandes obras estruturais, a exemplo da segunda ponte entre Brasil e Paraguai. Em que estágio está essa obra, quando ela deverá ser concluída e qual é o investimento? E quanto às relações entre os dois países, que contribuições esse empreendimento trará?

Almirante Risden – A cooperação binacional é a marca da empresa e parte da nossa força. A binacionalidade nos ajuda a ter outro olhar com relação às demandas que temos e, para cumprirmos nossa missão, a conciliação das ideias é essencial. Então, a construção de uma nova ponte entre Brasil e Paraguai era uma dessas demandas, aspiração antiga de ambos os países e que contribuirá para o desenvolvimento econômico regional do Paraná e de cada nação envolvida. Em março, as obras da Ponte da Integração Brasil-Paraguai, que conectará Foz do Iguaçu, no Paraná, a Presidente Franco, no Paraguai, ultrapassaram os 80% do seu cronograma. A obra deverá ficar pronta no 3º trimestre deste ano.  Ainda está em andamento a construção da Perimetral Leste, uma rodovia de 15 quilômetros de extensão que fará a conexão com a nova ponte. Todas essas ações fazem parte de um pacote da margem brasileira da binacional em obras estruturantes, que chegam hoje a R$ 2,6 bilhões. A ponte e a perimetral são resultado de uma parceria da Itaipu, governos federal e do Paraná, sendo executadas pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná, além da estrutura similar de nossos irmãos paraguaios. Durante a sua construção, a Ponte da Integração tem gerado empregos nas duas margens, brasileira e paraguaia. Em breve, ela será fundamental para o desenvolvimento do Brasil e do Paraguai, criando maior fluxo de carga entre os dois países e se tornará mais um corredor da América do Sul.

Acic – Houve mudanças também na relação da Itaipu com os municípios lindeiros e com a região Oeste. Quais foram as principais alterações implementadas e o que elas almejam nesse contexto de conexão da binacional com a comunidade?

Almirante Risden – A Itaipu mantém seu compromisso com a região Oeste, beneficiada por uma série de convênios e ações da empresa, além do pagamento dos royalties. Desde fevereiro de 2019, foi implantado pela diretoria brasileira um novo sistema de gestão fundamentado na austeridade e nos princípios da administração pública contidos no artigo 37 da Constituição Federal (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência), refletindo em uma série de ações, como a revisão de convênios e patrocínios não aderentes à missão da empresa, entre outras citadas anteriormente. A principal mudança, portanto, para a região, foi justamente o conjunto de ações que possibilitou o benefício à população em obras com participação da Itaipu, como a ampliação da pista de pouso e decolagem do aeroporto de Foz do Iguaçu; a construção da Ponte da Integração Brasil – Paraguai; a duplicação de um trecho de 5,81 quilômetros da BR-277, entre o posto da Polícia Rodoviária Federal e o terminal da Ferroeste; e a duplicação integral do Contorno Oeste, conectando a BR-277 e a BR-163, entre várias outras.

Acic – Parte do Brasil enfrentou, principalmente nos últimos três anos, a pior estiagem em um século. Houve reflexos em inúmeros setores, como no abastecimento de água e prejuízos ao agronegócio. A Itaipu precisou adotar algum plano de contingência para minimizar impactos da falta regular de chuvas? Houve, de alguma forma, prejuízos à sua produção de energia?

Almirante RisdenPara garantir a segurança hídrica e energética, a Itaipu promove ações de conservação e restauração das matas ciliares dos corpos hídricos e nas áreas conhecidas como de recarga das grandes bacias de contribuição para o reservatório. Há uma relação direta entre chuva, energia e florestas. As matas ciliares têm um papel essencial na regulação do ciclo hidrológico, uma vez que a cobertura vegetal contribui com a disponibilidade e purificação da água, influencia no regime de precipitação, alimenta o lençol freático e contribui na recarga de aquíferos. A Itaipu tem contribuído na ampliação das florestas, tendo chegado recentemente à marca de 24 milhões de árvores plantadas e suas áreas protegidas reconhecidas como Reserva da Biosfera pela Unesco, em 2019. Isso garante um fluxo mais regular para a geração de energia, assim como para outros usos da água. Ainda assim, com o cenário desafiador de seca, o foco é produzir energia com a máxima eficiência, aproveitando cada metro cúbico de água. Nossos resultados mostram que temos tido sucesso nesse objetivo. Em termos diretos para a produção de energia, a usina tem se preparado para enfrentar cenários adversos com bons resultados, graças à qualidade técnica do seu quadro, à experiência de quase quatro décadas de geração de energia e à sinergia entre as quatro áreas binacionais de sua diretoria técnica (obras, manutenção, operação e engenharia). O reservatório da Itaipu, com 1.350 km² de área inundada, dispõe do melhor índice de aproveitamento da água para produzir energia entre os grandes reservatórios brasileiros. O entrosamento das equipes garante o máximo proveito de cada uma das quatro variáveis que determinam a produção de energia em uma usina hidrelétrica: afluência (o fator menos controlável), disponibilidade das máquinas, sistema de transmissão em pleno funcionamento e demanda por energia elétrica. 

Acic – Em 2023 termina o contrato dos royalties (compensação aos lindeiros). Como estão as negociações em torno desse assunto? Há possibilidade de o pagamento seguir por mais tempo?

Almirante Risden - O pagamento de royalties está previsto no corpo do Tratado de Itaipu. Apenas uma parte do Tratado, o Anexo C, é que poderá ser renegociada de acordo com a previsão de revisão constante da assinatura do documento, em 26 de abril de 1973. Dessa forma, o pagamento dos royalties permanecerá – desde março de 1985, os governos do Brasil e do Paraguai já receberam, conjuntamente, mais de US$ 12,7 bilhões.

Acic - O PTI, um dos braços de Itaipu, tem importante participação e representatividade no ecossistema de inovação do Oeste do Paraná. O que a inovação representa para a maior hidrelétrica do mundo em produção de energia renovável?

Almirante Risden - O Parque Tecnológico Itaipu contribui com o desenvolvimento de soluções tecnológicas que geram valor e progresso para a sociedade. Nessa perspectiva, o PTI é um ambiente propício para que a inovação aconteça, seja por meio do empreendedorismo ou na promoção de ciência e tecnologia, que resultam no desenvolvimento regional, geração de riquezas, emprego e bem-estar para a sociedade. Durante a pandemia, o parque teve um papel importante, como com a criação de sistema de higienização de ambiente por meio de luz ultravioleta.

Acic – O PTI também é parceiro de algumas iniciativas regionais importantes, como SRI Iguassu Valley, AcicLabs e Espaço Impulso, inaugurado em fevereiro no Show Rural Coopavel. Essas iniciativas todas, na sua opinião, colocam o Oeste do Paraná na vanguarda da inovação brasileira?

Almirante Risden - O PTI tem estimulado o movimento das startups, criando ambientes favoráveis para a geração de novos negócios, desenvolvimento, teste e validação de soluções tecnológicas. São iniciativas e parcerias que promovem a sinergia e a troca de conhecimentos em prol do desenvolvimento de soluções que se sucedem na melhoria da qualidade de vida das pessoas, diversificação da economia e na geração e atração de novos negócios.

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Quem é ele?

O almirante Anatalicio Risden Junior nasceu em Curitiba e sua família é de pioneiros de Foz do Iguaçu. Ao ser nomeado diretor-financeiro executivo da Itaipu, em fevereiro 2019, mudou-se para a cidade. Ele ainda exerce o cargo interinamente. Militar da reserva com mais de 40 anos de serviços prestados à Marinha do Brasil, é bacharel em Ciências Navais, com especialização em Intendência para Oficiais, e pós-graduado em Administração Financeira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Mestre em Ciências Navais e Doutor em Altos Estudos de Política e Estratégia – Marítimas. Participou do Programa de Desenvolvimento de Conselheiros, da Fundação Dom Cabral. Em sua carreira na Marinha, exerceu cargos como os de diretor de Coordenação do Orçamento da Marinha, diretor de Serviços de Inativos e Pensionistas da Marinha, diretor do Depósito de Material Comum da Marinha, subchefe da Estação Brasileira “Comandante Ferraz” na Antártica e negociador da área financeira do Programa de Desenvolvimento de Submarinos.

No período de 2008 a 2015, foi diretor de Coordenação do Orçamento da Marinha, constituindo o elo entre a Força Naval e os demais entes do Orçamento Federal. Entre eles, o Ministério da Defesa, o Ministério da Fazenda e o Ministério do Planejamento. Atuou como consultor da Fundação Getúlio Vargas, de 2015 a 2019. Possui condecorações como a Ordem de Rio Branco, concedida pelo Ministério das Relações Exteriores, Ordem do Mérito da Defesa, Ordem do Mérito Naval, além de prêmios nacionais e títulos de honraria, tais como Vulto Emérito Cidadão de Curitiba e Cidadão Honorário de Foz do Iguaçu.

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